# Dica de Leitura # 155

Título: Ansiedade em palavras

Autora: Kely Benfica

Número de páginas: 70

Ano: 2018

Editora: Sekhmet

* Exemplar cedido em parceria com a editora.

Ansiedade em palavras é uma obra composta por 34 poemas e 4 contos, na qual a autora brinca com as palavras e expressa os mais profundos sentimentos e lembranças de alguém que tem pressa de ser feliz, aliado a uma crítica à sociedade, seus costumes e valores, cuja demonstração de poder é o ponto de partida para a realização de pessoas que apenas vivem de aparências.

"Perdemos tempo

Com brigas e discussões;

Amores não recíprocos

Tristezas sem motivo

E, principalmente

Perdemos mais tempo

Sonhando com uma vida tão distante

E esquecendo-se de viver a atual."

Com esta capa que representa com perfeição o estilo da obra, o leitor percebe desde as primeiras páginas a ansiedade que a autora tem de mudar o seu modo de vida, levando-nos a algumas reflexões: vale a pena diferenciar o pobre do rico se, depois da morte, seremos todos iguais e não mais distinguidos pela roupa que usamos ou o carro que compramos? Por que a nossa sociedade insiste em desvalorizar a mulher, ser tão frágil e precioso, como se fosse apenas um objeto ou um "pedaço de carne", como a própria autora ressalta? Até que ponto vai a maldade humana, capaz de maltratar os animais, seres tão indefesos e amigos do homem? Prender-se à uma rotina cansativa e deixar a vida passar diante de seus olhos sem vivê-la no sentido real da palavra, é uma boa escolha?

"Quantas perguntas sem respostas...

e quantas respostas sem perguntas."

O que mais me chamou a atenção é que a autora ainda consegue ter esperanças, em si mesma, nas pessoas, e no mundo. Com uma carga bastante reflexiva e pessoal, o livro, sem dúvida, é um tapa na cara da nossa intolerância e desperta aquilo que há de melhor no ser humano: a ânsia de mudar, de cada dia ser diferente, de ser, como já diria o consagrado Raul Seixas, uma metamorfose ambulante.

"Já beijei alguém sem amar,

Já amei alguém sem beijar.

Já abracei alguém sem querer

Já quis abraçar, mas não pude.

Já disse 'eu te amo' sem sentir

Já disse 'eu te amo' com todas as forças.

Já quis tantas coisas

E já não quis mais nada."

Abro um parênteses ao final da resenha para destacar o poema e o conto que se tornaram meus preferidos. O primeiro, intitulado E se... A morte chegasse? aborda a efemeridade da vida e como as pessoas não sabem dar valor ao tempo que dispõem aqui na Terra. E o segundo, foi o conto O cachorro cego, no qual conhecemos um cachorro de rua que, apesar de velho, cego e maltratado, nunca perdeu as esperanças de encontrar um dono que o amasse de verdade. E ele, de fato, tem a chance de viver plenamente seus últimos dias de vida, depois de ter sido, finalmente, adotado por uma moça que, diferente das demais pessoas, conseguiu se apaixonar pela sua essência e enxergar a beleza por trás de uma verdadeira amizade. Sem dúvida, foi a parte mais emocionante de todo livro. Quando se trata de cachorro, eu sou a manteiga mais derretida do mundo. Adotei recentemente um vira-lata, e o amor incondicional que eles têm é algo inenarrável. Por isso é melhor eu parar com esse assunto por aqui, senão vou começar a chorar de novo...

Enfim, o livro possui fluidez na escrita e é uma leitura extremamente rápida e reflexiva. Indico para todos aqueles que, assim como eu, são apaixonados por poesias e contos!

"Deixe todos os sentimentos transbordarem

Pois assim você se afogará de uma só vez,

Pois tudo passa."

CLASSIFICAÇÃO: 

MUITO BOM!