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02/03/2020

# Dica de Leitura # 215

Título: A filha esquecida
Autor: Armando Lucas Correa
Número de páginas: 384
Ano: 2019
Editora: Jangada

* Exemplar cedido em parceria com a editora.

"Sempre que você tiver medo e seu coração estiver acelerado, comece a contar suas batidas. Conte-as e pense em cada uma delas, porque você é a única pessoa que pode controlá-las. À medida que aumentar o silêncio entre uma batida e outra, o medo vai começar a diminuir. Nós precisamos desses silêncios para existir, para pensar."

O ano de 1939 marca o início de um dos períodos mais indecorosos da História da humanidade, quando bárbaros, motivados pelo patriotismo exacerbado e pelo ódio injustificado, atacam a razão e destroem séculos de civilização, em nome de um suposto ideal de superioridade.

É nesse cenário de calamidade que somos apresentados a Amanda e Julius Sternberg, um casal que vê os sonhos que projetaram para as duas filhas, Viera e Lina, caírem por terra a partir do momento em que os nazistas invadem Berlim. Foi assim que os Sternberg viram o seu Jardim de Letras, a livraria que Amanda herdara da família, murchar e morrer. Mas quem começa destruindo livros, não fará a menor cerimônia em terminar ceifando vidas...

Com a guerra declarada, muitas famílias optaram em fugir, mas os Sternberg mantiveram-se firmes, pois o renomado cardiologista Julius se negava a abandonar seus pacientes diante daquele cenário hostil. Infelizmente, ele pagou caro por isso: foi perseguido, capturado e levado para um campo de concentração de onde ninguém jamais havia voltado. Seu crime? Ser judeu.

Agora, Amanda é obrigada a deixar tudo para trás e fazer o impossível para salvar a sua família. Mas nem sempre as escolhas que fazemos são as mais sensatas e, num ímpeto, essa mãe desesperada toma uma atitude drástica, que irá assombrá-la até os últimos dias de sua vida.

"Tudo o que peço é que, aconteça o que acontecer, não olhe para trás."

Repleta de personagens marcantes, "A filha esquecida" nos apresenta mulheres fortes e inspiradoras; verdadeiras guerreiras determinadas a lutar e a se sacrificar por aqueles que amam, diante de uma realidade sombria e angustiante que exterminou parte da população mundial e dilacerou o que restava da esperança por dias melhores.

Profundo, comovente e intenso, o enredo aborda temas como encontros, despedidas, coragem, amor, sacrifício, perdão e redenção, nos levando a refletir sobre esse doloroso evento histórico, que trouxe à tona o melhor e o pior que o coração humano tem a oferecer.

Não tenho como negar: o aperto no peito me acompanhou durante toda a leitura e aumentava cada vez que eu lembrava que essa história é baseada em fatos. Sinto minha alma se desprender do corpo só de imaginar uma época em que atrocidades como essa eram cometidas sem nem sequer pesar a consciência. Virei a noite lendo, na esperança de haver um final feliz para tudo aquilo. Mas não. Assim como em todo livro que fala sobre a guerra, o saldo foi negativo e a sequência de perdas e danos, imensurável. A atmosfera criada pelo autor é tão real, que chega quase a ser palpável: eu me sentia ali, no meio daquilo tudo, como uma telespectadora incapaz de mudar a triste realidade de um passado que pertence a todos nós.

Como todo bom livro, "A filha esquecida" me deixou muitas marcas, mas sem dúvida a que prevalece é uma bela lição de amor! Deixo aqui a minha sincera recomendação e advirto: preparem os lencinhos, vocês vão precisar...

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